Sugestão visa mitigar a falta de abastecimento de água em áreas urbanas e rurais
28/08/2024 17h26 | Atualizado em 29/08/2024 14h26 Por ASCOM
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) debateu e apresentou propostas para o manejo sustentável da água de chuva durante o 13º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva (SBCMAC), realizado de domingo (25) a terça-feira (27), em Recife (PE), no Instituto de Pesquisa em Petróleo e Energia (i-LITPEG), no Campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O evento reuniu especialistas, acadêmicos e representantes do governo em torno do tema.
Uma das sugestões da Semas para mitigar a falta de abastecimento de água em áreas urbanas e rurais é estimular empresas a instalar sistemas de abastecimento de água de chuvas via processos de licenciamento ambiental, em consonância com práticas socioambientais que orientam empresas para ações sustentáveis, minimizando e compensando impactos ambientais.
“A captação, o manejo e o uso de água da chuva são a mais perfeita tradução de uma solução baseada na natureza (SbN), mas pouco é citado no debate climático. Por isso, apresentamos no Simpósio possibilidades de discutirmos ações de impacto social positivo vinculadas à agenda ASG/ESG, como a orientação a empresas, por intermédio de processos de licenciamento ambiental, para promover a instalação de sistemas de captação de águas de chuvas em comunidades urbanas e rurais”, explica o secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Semas, Rodolpho Zahluth Bastos, que participou de mesa redonda no evento.
“O tema se relaciona com a efetivação de diferentes objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), além do enorme impacto social positivo vinculado à agenda ESG. Água é vida, para desenvolver qualquer relação de desenvolvimento sustentável, de prática sustentável nas comunidades, bioeconomia, a gente precisa ter água e energia. Então, acho que o financiamento climático precisa olhar um pouco mais para isso, dentro do contexto do debate de soluções baseadas na natureza, sobretudo na Amazônia”, destaca o secretário adjunto.
A programação começou com minicursos e oficinas ministrados por palestrantes convidados e discentes de pós-graduação, proporcionando uma introdução prática às técnicas e tecnologias de captação e manejo de água de chuva. A cerimônia de abertura contou com os palestrantes Sérgio Ayrimoraes, do Instituto Reuso de Água; Alexandre Pires, do Ministério do Meio Ambiente; Han Heijnen, da International Rainwater Harvesting Alliance; Ronaldo L. Rodrigues Mendes, da Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva (ABCMAC); Sávia Gavazza, do Ministério da Fazenda; José Almir Cirilo, da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental de Pernambuco (SRHS/PE); Suzana Montenegro, da Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC); Sylvana Melo dos Santos, presidente da comissão organizadora, e Alfredo Macedo Gomes, reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Rodolpho Zahluth Bastos participou da Mesa Redonda 2, com o tema “O papel da Água de Chuva na Gestão dos Recursos Hídricos”. Também participaram Rutineia Tassi, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Gladys Vidal Sáez, do Centro de Recursos Hídricos para a Agricultura e a Mineração (CRHIAM) do Chile, e Artur Paiva Coutinho, da Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SRHS/PE). Houve também uma apresentação intitulada “A voz do futuro 2”, com moderação de Stella Maris Bezerra, da UTFPR.
“Promover a captação e manejo da água da chuva é uma alternativa que temos de garantir direito humano fundamental, o de acesso à água e ao saneamento básico. Precisamos de uma política nacional sobre o tema. Na ação pública, precisamos ampliar o olhar para o ciclo da água como um todo, não apenas o recorte de gestão de bacia hidrográfica. Há milhares de comunidades na Amazônia que carecem de água e saneamento”, declara Rodolpho Bastos.
O segundo dia de evento também contou com a palestra “Desafios e oportunidades para a gestão de águas pluviais em áreas rurais e urbanas e zonas comerciais”, ministrada por Han Heijnen, da International Rainwater Harvesting Alliance, e moderada por Stella Maris Bezerra, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Em seguida, foi realizada a Mesa Redonda 1, com o tema “Tecnologias sociais e disruptivas para produção de água de chuva para consumo humano”, que contou com as palestras de Tatsuo Shubo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Rodrigo Barbosa, do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), além de uma apresentação oral intitulada “A voz do futuro 1”. A moderação foi feita por Sávia Gavazza, do Ministério da Fazenda.
No mesmo dia foi realizada a Mesa Redonda 3, que abordou o tema “Água de chuva no contexto dos povos originários & Água de chuva e a questão de gênero e raça”. As palestras foram ministradas por Vânia Neu, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), e Maria Auxiliadora dos Santos, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano. Também houve uma apresentação “A voz do futuro 3”, com moderação de André Rocha, do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa).
“A gente vê muito ainda a questão da captação e do manejo da água da chuva ainda associada a prédios modernos em ambientes urbanos. Existem várias modalidades de captação de água de chuva que poderiam estar fornecendo uma água adequada para famílias no ambiente urbano e no ambiente rural, associada à políticas de saúde, de saneamento. Se você tem uma água mais adequada, você tem um menor número de doenças, você tem menor impacto sobre o sistema de saúde”, avalia Rodolpho Bastos.
A Mesa Redonda 4 discutiu o tema “Conexões sociais como meio de transformação”, com apresentações de Mychel Gomes de Sá Ferraz, da ProRural, Waneska Bonfim, da Diaconia – ASA-PE, e Maria Cristina Aureliano de Melo Ramos, do Centro Sabiá. A moderação ficou a cargo de Ronaldo Lopes Rodrigues Mendes, da ABCMAC. Também ocorreu uma visita ao “Caminhão Estrada” da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), estacionado no i-LITPEG.
Ronaldo Mendes, presidente da Associação Brasileira de Manejo e Captação de Água da Chuva, considerou inovadora a proposta apresentada pelo representante da Semas. “No caso da Amazônia, o abastecimento de água tem déficit importante, principalmente nas áreas rurais, em que praticamente não existe atendimento público. No caso da Semas, uma iniciativa como essa que o professor Rodolpho Bastos demonstra viabilizar, o estímulo para que empresas façam a instalação do sistema de abastecimento de água de chuvas, principalmente em áreas rurais, por meio do licenciamento ambiental, é extremamente bem-vinda. Mesmo nós, da associação, não tínhamos pensado nisso. Então, do ponto de vista de política pública, é uma ação inovadora, principalmente por associar à questão ambiental, em uma nova roupagem. Usando a água de chuva, você evita uma série de problemas ambientais. Em áreas rurais, empreendimentos estão acontecendo e não deixam contrapartida para as comunidades. Por isso é importante esta iniciativa da Semas para o uso da água de chuva, o que pode se tornar referência para ser aplicada em diversos estados”, avalia o presidente da entidade.
O último dia de evento começou com a palestra “Drenagem urbana no cenário das mudanças climáticas”, apresentada por Vladimir de Souza, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), com moderação de Carlos Galvão, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A Mesa Redonda 5 discutiu “Inovação e empreendedorismo voltado para água de chuva”, com palestras de Ricardo Franci Goncalves, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), José Roberto Ferreira Guerra, do Polotec UFPE, Júlio Cesar Azevedo Luz de Lima, da Startup Pluvi, e Francisco Marcelo de Alencar Maia, da Startup Moverdes.
Mais uma apresentação, “A voz do futuro 5”, foi realizada, com moderação de Suzana Maria Gico Lima Montenegro, da UFPE e APAC. A programação seguiu com a Mesa Redonda 6, sobre “Legislação e políticas públicas voltadas ao abastecimento hídrico”, com palestras de Anderson Felipe de Medeiros Bezerra, da Secretaria Nacional de Políticas de Ciência e Tecnologia (SNPCT), José Antônio Bertotti Júnior, do i-LITPEG, Daniel Richard Sant’Ana, da Universidade de Brasília (UNB), e Marcelo Chaves Moreira, da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA). Houve também uma apresentação “A voz do futuro 6”, com moderação de Sílvio Roberto Orrico, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
“O manejo da água de chuva é uma ideia muito antiga, milenar, mas que de certa forma ainda é uma novidade em muitos lugares. Trabalhamos no contexto de divulgar o aproveitamento da água de chuva, de apoiar as iniciativas que já existem para que sejam replicadas, dar visibilidade e estimular que se tornem políticas públicas. O Simpósio é o momento de realização máxima dessa atividade, em que os pesquisadores, as pessoas que são usuárias da água de chuva, possam se reunir, discutir, elaborar, fazer sugestões para que isso continue e seja ampliado”, conclui Ronaldo Mendes, que é professor do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA.
O simpósio foi encerrado com visitas técnicas guiadas, permitindo que os participantes observassem práticas inovadoras de captação e manejo de água de chuva na região. O 13º SBCMAC destacou a importância de abordagens integradas e multidisciplinares para o manejo sustentável da água de chuva, reunindo uma ampla gama de especialistas para discutir desde inovações tecnológicas até políticas públicas e questões sociais. A variedade de temas e o envolvimento de diversos setores reforçaram a necessidade de ações coordenadas para enfrentar os desafios hídricos em um cenário de mudanças climáticas e crescente demanda por recursos hídricos sustentáveis.
Texto: Antônio Darwich – Ascom Semas