23/11/2022 15h44 | Atualizado em 23/11/2022 15h44 Por ASCOM
Com o lançamento do Plano Estadual de Bioeconomia, na COP 27, Governo do Estado propõe soluções baseadas na natureza para transformar a economia do Pará
Dona Maria do Rosário, de 71 anos, aprendeu cedo o trabalho na roça. Ainda criança, ia com os pais para as plantações de mandioca da família, no município de Acará, nordeste paraense. A longa experiência no campo se aperfeiçoou nos últimos anos. “Na época em que me criei e criei meus filhos, ainda usava o fogo para preparar o terreno. Eu não tinha noção que vinha esse ensinamento pra gente, de como lidar com a terra sem queimar”, compartilha.
O que a agricultora aprendeu foi uma forma de sustentar a família respeitando a natureza. Um conceito prático de bioeconomia, como explica Marjorie Azevedo, engenheira ambiental. “Bioeconomia é gerar um valor econômico a partir da vida na produção. Aqui, por exemplo, se respeitam preceitos bioeconômicos da sustentabilidade. Não há queimada. O plantio é preparado por máquinas. Essa terra é de uma área já utilizada, ou seja, não contribui para o desmatamento. Também não é usado nenhum fertilizante químico, apenas o biofertilizante, como folhagens”, esclarece.
A Associação de Produtores Orgânicos de Boa Vista, no Acará, da qual a dona Maria do Rosário faz parte, emprega 52 pessoas. Mais de dez produtos, entre raízes e ervas, são colhidos e vendidos para duas empresas. Uma delas fica em Belém e é gerenciada por Joana Martins. “Aqui produzimos alimentos, a partir da biodiversidade que a Amazônia nos dá. A gente comercializa produtos tradicionais como tucupi, cumaru de forma tradicional e inovadora também, aliando tecnologia aos processos, como é o caso da granola de tapioca, o molho de tucupi preto, entre outros. Quando entendemos que existia esse conceito de um negócio de impacto socioambiental aliado à bioeconomia, foi quando a gente se achou. É o que a gente sempre fez”, pontua.
O negócio da Joana tem 27 funcionários e comercializa mais de 20 produtos. Recentemente, as experiências sustentáveis da empresa foram compartilhadas em uma mesa redonda na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), em Sharm El-Sheikh, no Egito, a convite do Governo do Pará.
“Estar lá na COP foi ser voz, enquanto uma pequena indústria, liderada por uma mulher, mostrando o que a gente faz aqui, que a gente sabe que é pioneiro. Então, dá muito orgulho não só pra mim, mas para a equipe e para as comunidades que trabalham com a gente”, comenta.
Plano Estadual de Bioeconomia (Planbio) – Foi na COP 27 que o Governo do Pará lançou o Plano Estadual de Bioeconomia (Planbio), a primeira iniciativa a nível estadual do Brasil que prevê soluções baseadas na natureza para transformar a economia existente em soluções de baixo carbono e com valorização do conhecimento tradicional para conservar a floresta.
“O Plano de Bioeconomia é a construção do amanhã no Estado do Pará. Para que a partir da bioeconomia a gente consiga gerar emprego, renda, garantir uma solução ambiental, mas que seja inclusivo socialmente, que seja sustentável no âmbito do uso da terra, mas acima de tudo, que seja sustentável para empregar pessoas, inserir gente, para garantir renda para nossa população. Que o exemplo do estado do Pará, de compreender o seu protagonismo para o desafio do Brasil, seja a repercussão do país para construirmos a solução que concilie pessoas, floresta viva em favor do clima, em favor da humanidade”, ressaltou o governador Helder Barbalho.
O Pará tem a maior província de ferro e de outros minerais de todo o Brasil, além de possuir o quarto maior rebanho bovino e ter o maior rebanho bubalino. O estado também é o maior produtor de cacau, dendê, açaí e pimenta do reino do país. Há, ainda, o avanço significativo de culturas como soja, milho e arroz.
O Planbio propõe o desafio de construir a conciliação dessas atividades com a sustentabilidade, ou seja, equilibrar a exploração dos recursos naturais pela sociedade, como esclarece a diretora de Mudanças Climáticas, Serviços Ambientais e Bioeconomia da Semas, Camille Bemerguy.
“Como premissa, a ideia é da conservação. A gente sempre fala que são três elementos importantes: a economia, as pessoas e a floresta em pé. A gente tem que ver como conciliar tudo isso. Lembrando que é a primeira vez que se procura fazer desenvolvimento econômico com floresta em pé. Então, o Planbio é pioneiro tanto em termo de processo, como em termo de objetivo. Foi um processo longo que trouxe muito aprendizado que se torna referência mundial. A gente quer que seja a possibilidade de transformação econômica e social, com olhar para o ambiental atento e cuidadoso”, pontua.
Ao investir nos produtos prioritários da biodiversidade para a bioeconomia, estudos estimam que pode-se alcançar R$178 bilhões até 2040.
O Plano Estadual de Bioeconomia (Planbio) é uma política pública do Governo do Pará, coordenado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e ancorado na Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), sendo também um dos componentes do eixo desenvolvimento socioeconômico de baixo carbono do Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA).
Ao todo, quase 300 pessoas participaram das oitivas etno regionais realizadas nos municípios de Marabá, Belém, Santarém e Altamira; além de 41 instituições que pertencem ao grupo de trabalho responsável pela elaboração do Plano e uma consulta pública eletrônica.
Avanços – As mais de 80 ações que compõem o Planbio perpassam por três eixos temáticos de sustentação: pesquisa, desenvolvimento e inovação; patrimônio cultural, genético e conhecimento tradicional associado; e cadeias produtivas e negócios sustentáveis.
Algumas dessas ações já foram previstas no Orçamento de 2023, com o restante sendo previsto para o próximo PPA de 2024-2027. Além disso, foram inseridas no orçamento estadual duas novas ações: Fomento à Bioeconomia e Implantação do Parque de Bioeconomia.
“Quanto mais gente estiver trabalhando com bioeconomia, levando a Amazônia para o mundo,mais fácil vai ser pra todo mundo fazer. Então, eu sou muito otimista. Temos um potencial gigantesco de possibilidade de renda e qualidade de vida para o nosso povo”, espera a empresária Joana Martins.
De acordo com as estimativas da Semas, a bioeconomia enquanto agenda econômica, significa a possibilidade de R$5 bilhões de recursos financeiros no Pará.
A solução ambiental para uma economia diversificada, justa e inclusiva, que foi apresentada à família da agricultora Maria do Rosário, é motivo de orgulho.
“Pra mim, eu aprendi a entender que a terra é como nós. Ela precisa de cuidado também. Eu aprendi tanto que hoje luto para não queimar a terra. Eu digo para os meus filhos: olha, vocês querem ser sábios, aprendam com a natureza. Eu sou muito feliz porque aprendi a respeitar a terra. Me sinto realizada. Eu aprendi a preservar”, comemora.