20/10/2021 08h50 Por ASCOM
Com a temática ‘Olhando para o futuro’, representantes das áreas da saúde, dos indígenas e do Fórum Mundial de Bioeconomia, debateram sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia, dentro dos painéis do Fórum, nesta terça-feira (19), na Estação das Docas, em Belém.
Presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pesquisadora Nísia Trindade Lima, falou sobre bioeconomia e saúde para o desenvolvimento sustentável, desafios para o Brasil. A estudiosa destacou que o impacto da perda da biodiversidade e as mudanças climáticas trouxeram grandes problemas como a pandemia de covi-19 e desastres naturais. “Impossível falar sobre saúde sem falar em biodiversidade e temos que pensar nessa agenda para o futuro”, completou.
De acordo com a doutora, o Brasil tem um potencial imenso para bioeconomia, já que possui mais de 1 milhão e 800 mil espécies de componentes naturais utilizados na criação de drogas e remédios naturais no mundo. Neste sentido, ela destacou que a Fiocruz está alinhada a dois projetos no Estado: um sobre a produção do açaí no município de Abaetetuba e outra sobre a produção de fitoterápicos, o “Articulafito”. “Nós temos a visão da economia como espaço para bioeconomia para gerar emprego, renda e oportunidades. Este fórum será de fundamental importância para discutirmos temas como estes em fóruns futuros”, frisou ela.
Ainda no tema, Nísia elencou sete desafios nacionais e globais para desenvolvimento da bioeconomia e saúde: sustentabilidade ambiental, ou seja, mudar o padrão de desenvolvimento para agregar valor aos recursos; demografia – capacitar jovens para explorar a bioeconomia; desigualdade – desenvolver a bioeconmia gerando empregos e qualidade; ciência e tecnologia – gerar conhecimentos tecnológicos e inovações; tecnologia e informação e comunicação – conhecer, monitorar e rastrear recursos com uso de novas tecnologias; trabalho – mudança estrutural da base produtiva para explorar a bioeconomia com empregos de qualidade; democracia – orientação da bioeconomia aos problemas sociais do País.
Para a conselheira sênior do Fórum Mundial de Bioeconomia, Teresa Presas, a discussão pode nortear ações para o futuro. “Foi uma reflexão muito importante. O fórum foi muito feliz em fazer essa dicussão para essa agenda, ainda mais em tempos de pandemia, aqui percebemos que ainda temos um grande caminho a percorrer”, observou ela, que foi a mediadora do tema.
Povos tradicionais – Como representante dos povos indígenas, o Fórum recebeu no painel 6 a indígena Puyr Tembé, presidente da Federação Estadual dos Povos Indígenas do Pará. Puyr agradeceu ao Governo do Pará pelo espaço cedido aos povos tradicionais e da floresta, que também estão inseridos no processo de produção da bioeconomia, e aproveitou para fazer uma reflexão importante.
“Nós só teremos bioeconomia se tivermos os povos indígenas e da florestas como seus direitos garantidos. Nós já fazemos essa bioeconomia há milhares de anos, há séculos, e nós precisamos demonstrar isso para a sociedade. Mas só vamos conseguir isso se tivermos nossas terras demarcadas, o que é de nosso direito, então a minha fala é de reflexão, pois estamos cuidando do planeta. Demarcação já!”, disse ela, que levou um cartaz com a frase para o palco, em tom de protesto.
A indígena também relatou momentos difíceis que os indígenas passaram, devido a pandemia da covid-19.”O Brasil é feito de biodiversidade, de pessoas e povos, então pra mim estar aqui e falar isso é muito difícil. A pandemia levou muitos de nós, mas os povos da floresta lutaram bravamente. O País pouco cuidou da gente e se preocupou com as nossas condições, mas estamos aqui para garantir os nossos territórios”, disse ela, se referindo a falta de apoio do Governo Federal.
Debates – O Fórum Mundial de Bioeconomia (WCBEF) será realizado até esta quarta-feira (20), em Belém. Em uma ação articulada pelo Governo do Pará, pela primeira vez, o evento ocorre fora da Europa. No coração da região amazônica, o Fórum discute caminhos e oportunidades verdadeiramente escaláveis, com real potencial de transformação e de sinergia com a natureza. Lideranças e especialistas, do Brasil e do exterior, estão focados nos debates que se apresentam para o desenvolvimento pleno da bioeconomia.
A bioeconomia, ou economia sustentável, se preocupa com o consumo consciente, em equilíbrio com o meio ambiente e os recursos naturais. Seu objetivo é construir uma economia pautada na utilização de recursos de base biológica, recicláveis e renováveis – ou seja, mais sustentáveis. Mais informações podem ser acessadas no site do Fórum.