30/03/2020 09h12 | Atualizado em 30/03/2020 10h12 Por ASCOM
O isolamento social ainda é indicado como a forma mais eficaz de retardar o período de transmissão comunitária em estados onde já existem casos confirmados do novo coronavírus, segundo o sanitarista e diretor de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Pará (Sespa), Amiraldo Pinheiro. “Estamos prevendo que o pico de proliferação seja registrado nos próximos dias no Estado. Sabemos que este momento vai chegar e garantir que a população esteja em isolamento quando estivermos nessa fase nos dá uma chance maior de sucesso no combate à pandemia”, explicou.
A transmissão comunitária é definida quando os órgãos de saúde já não conseguem mais identificar a origem da contaminação. Até o momento, o Pará tem confirmados 20 casos de infecção por covid-19, que foram registrados entre os dias 18 e 29 de março. Destes, sete são característicos de transmissão local, quando o paciente adquire a doença após ser contaminado por alguém do seu convívio, e um segue em investigação.
“O Estado está apenas no início da proliferação, porque até o momento só temos casos importados (quando o paciente adquiriu o vírus fora do Estado) ou de transmissão local. É provável que a transmissão comunitária já esteja instalada nas cidades, principalmente na Região Metropolitana e que, nos próximos dias estejamos confirmando casos neste sentido. Por isso, mesmo que ainda não tenhamos este registro, o isolamento social reforça este processo de prevenção”, complementou.
No último dia 16, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou como pandemia a contaminação mundial pelo novo coronavírus. De lá para cá, o Governo do Pará vem tomando medidas emergenciais de enfrentamento à doença, dentre elas a proibição de eventos com 100 ou mais pessoas, o fechamento parcial de restaurantes, a suspensão de serviços em shoppings centers, bares, casas de show ou similares, e de transportes interestaduais fluviais e rodoviários. As ações visam reduzir os casos de infecção pela doença e, com isso, minimizar o ciclo do vírus no Estado.
“Nós antecipamos os trabalhos de prevenção em, pelo menos, 15 dias do período de maior contaminação. É necessário se antecipar a este período de transmissão elevada. Verificamos que em outros países não houve essa antecipação e por isso foram surpreendidos por uma grande proliferação”, ressaltou o diretor.
Contágio – Uma pessoa infectada com o novo coronavírus pode transmitir, em média, para outras cinco pessoas, sem que tenha sequer apresentado sintomas, de acordo com dados da Sespa. Esta estimativa indica que a covid-19 é um vírus além de silencioso, muito contagioso.
“A transmissão pode ser por gotículas de saliva ou espirro, assim também como por superfícies. Pessoas contaminadas que tenham secreção nas mãos e toquem em superfícies, talheres, copos podem contaminar outras pessoas. Ou seja, ela não só passa de pessoa pra pessoa, mas também se transmite de forma indireta”.
Grupos de Risco – De acordo com Amiraldo Pinheiro, estão nos grupos de risco os cardiopatas, os renais crônicos, os diabéticos, pessoas em tratamento contra o câncer e aquelas que tenham alguma comorbidade (pacientes que tenham duas ou mais doenças relacionadas). “Essas pessoas têm o sistema imunológico naturalmente mais deprimido, com respostas mais difíceis a uma doença infecciosa e tudo isso faz com que o vírus se comporte de forma mais agressiva e se multiplique mais rápido dentro do organismo”, complementou.
Segundo os dados do IBGE, o Pará possui atualmente 550 mil idosos. Destes, mais de 122 mil são também diabéticos. “Essas pessoas têm uma dificuldade maior em reagir ao tratamento e precisam de suporte médico de urgência para combater o vírus”, disse Amiraldo.
Pedido de Mãe – A mãe de uma criança de 7 anos, que possui Leucemia Linfóide Aguda, está preocupada com a proliferação do novo coronavírus pois, de acordo com as características do seu tratamento, o filho é considerado como paciente do grupo de risco para a covid-19, e esta confirmação tem preocupado toda a família.
“Mesmo com todos os cuidados que temos com ele, é muito fácil termos intercorrências. Nossa principal preocupação, nesse sentido, é que o contágio da doença aumente, porque com isso os riscos para ele são ainda maiores. Tudo com ele evolui em uma velocidade absurda e a possibilidade dele pergar uma doença como essa nos deixa muito preocupados”, disse a mãe, que terá sua identidade preservada, assim como a da criança.
O menino segue na fase de manutenção do tratamento e precisa fazer quimioterapia toda semana, ou seja, tem que sair de casa para ir ao hospital. Apesar de toda a rotina de prevenção e higiene dentro de casa, precisar sair, neste período, tem sido motivo de preocupação.
“Estamos muito aflitos vendo que muitas pessoas não estão seguindo a orientação de isolamento social e sabemos que esse é o único meio de diminuir o ritmo de proliferação da doença. Então, eu peço que essas pessoas reflitam e sigam as orientações senão por elas, mas por pessoas e crianças que realmente estão suscetíveis. O meu apelo é que, quem puder, fique em casa, para que a gente passe por essa tempestade com o menor dano possível”, concluiu a mãe.
Texto: Barbara Brilhante (PGE)
Imagem: Pedro Guerreiro/ Ag. Pará